Culturanças são... culturanças são lembranças embuídas em pó, desterro e traças. É o pavio culto, largado, dos sertões de dentro, aqueles rodeados em nó. Sonhamento é estranheza turva, é moleza d'olhos de algaravia só. Pertença, pertença em tronças, em caichos d'álho ao Mato Dentro. Mato afora, Cerqueira Maria, escriturária em Jati, corria como louca. Culturança era pouco, seu corpo era tépido. A moça corria de pés em vento, de trouxa nas costas. O mato farfalha, as contas balançam, a tesoura cai. Cerqueira tropeça, a trouxa ao chão, volta. Retoma a tesoura e o fio, a picada e estrada. Seu rosto balouça, vai em câmera lenta pulsando dos lados. A garganta queima, seca, retorce. "Ahh Maria das Cercas, que tu fizestes à cabrinha?" E ela corre, corre, corre... corre, corre, corre mato adentro... corre num engalfo de sede e fome... Maria e a cerca, o pulo e a morte. Ela corre da casa, corre do homi, corre de si, espelho da carne, culpada de tudo, descarte da sorte... corre, corre, corre Maria das Cercas... corre, corre, corre... pra vinte anos passar, pra vinte anos morrer, pro vigésimo ano, tempo de agora, ser culturança do tempo, crimonosa em pó, um resíduo das traças.
Trabalha hoje, na Rodrigues Souza, em amplo elevador, Maria das Cercas. Às vezes se lembra, da tesoura e a ponta, no apertar da subida, um cabelo em tranças.
Trabalha hoje, na Rodrigues Souza, em amplo elevador, Maria das Cercas. Às vezes se lembra, da tesoura e a ponta, no apertar da subida, um cabelo em tranças.