Obrigado meu Deus. Obrigado meu pai. Obrigado.
quinta-feira, dezembro 07, 2006
By Flávio Souza on quinta-feira, dezembro 07, 2006
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quarta-feira, novembro 08, 2006
By Flávio Souza on quarta-feira, novembro 08, 2006
"Na lúgrube cela empoirada dos meus cuidados, há um quê de folhas verdes que teimam em se erguer. Os galhos do sustento são como linhas de cobre entrelaçadas. Perfuram o céu, perfuram a terra, perfuram a mim. E da transfusão colhida, me dou ao prazer do encharco. Três linhas a menos e nada a dizer. O texto se come às avessas. Aperto a esponja que sou à espera da fuga dos insetos. Uns sempre ficam, maledicentes. E assim vou, caminhando com as folhas de esperança, o remoer dos galhos e o aspergir dos insetos. O passo é vagoroso, o mundo é grande, mas eu o mastigo."
Zidur parou à porta do amigo. Bateu três vezes - o aviso combinado. Um sorriso acolhedor aparece. Entram. A poltrona serve agora como o espaço da lonjura próxima. Zidur fala então das últimas músicas que ouvira, conta sobre a vontade de ir ao jogo no domingo e aguarda ansioso pelo cafezinho servido. Ele repara a atriz gostosa na TV, elogia em eufemismo. Sorri. Um inseto abre as asas lá por dentro. Coloca uma perna sobre a outra, o tempo passa. Jogam cartas, buraco, quem sabe. Gritam, bebem cerveja. A patroa do amigo traz uma porção de pastelzinhos portugueses. Comeram, gritaram, riram e beberam mais. A porta se abre, entra o Cláudio, outro amigo. Fecha-se uma roda. A noite prossegue, o papo é bom. O amigo mostra as novas músicas e agora temos um misto de debate a apreciação. Um pouco mais quieto, Zidur sente o som de Ute Lemper e relembra algo não vivido. Duas, três horas da manhã, hora de ir. Despedem-se.
E tudo fizeram sem se ver. E tudo fizeram como que em um breve tocar de galhos. Na hora do café, uma folha do amigo caiu. Olharam-na, mas ninguém a pegou. No prosaico encontro, era melhor o pastelzinho a comer a vida. Zidur, discreto, fechou os olhos e sentiu o percevejo lhe correr nas costas.
Zidur parou à porta do amigo. Bateu três vezes - o aviso combinado. Um sorriso acolhedor aparece. Entram. A poltrona serve agora como o espaço da lonjura próxima. Zidur fala então das últimas músicas que ouvira, conta sobre a vontade de ir ao jogo no domingo e aguarda ansioso pelo cafezinho servido. Ele repara a atriz gostosa na TV, elogia em eufemismo. Sorri. Um inseto abre as asas lá por dentro. Coloca uma perna sobre a outra, o tempo passa. Jogam cartas, buraco, quem sabe. Gritam, bebem cerveja. A patroa do amigo traz uma porção de pastelzinhos portugueses. Comeram, gritaram, riram e beberam mais. A porta se abre, entra o Cláudio, outro amigo. Fecha-se uma roda. A noite prossegue, o papo é bom. O amigo mostra as novas músicas e agora temos um misto de debate a apreciação. Um pouco mais quieto, Zidur sente o som de Ute Lemper e relembra algo não vivido. Duas, três horas da manhã, hora de ir. Despedem-se.
E tudo fizeram sem se ver. E tudo fizeram como que em um breve tocar de galhos. Na hora do café, uma folha do amigo caiu. Olharam-na, mas ninguém a pegou. No prosaico encontro, era melhor o pastelzinho a comer a vida. Zidur, discreto, fechou os olhos e sentiu o percevejo lhe correr nas costas.
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sábado, julho 08, 2006
By Flávio Souza on sábado, julho 08, 2006
"Nenhum dia sem uma página"
Johann Wolfgang von Goethe.
Quisera eu ter essa persistência. Mas vou deixar aqui essa frase com poderes curativos para sempre me lembrar de escrever uma página por dia. Talvez tatuar isso na mão e olhar todo santo dia. Acho que ia ajudar muito.
Johann Wolfgang von Goethe.
Quisera eu ter essa persistência. Mas vou deixar aqui essa frase com poderes curativos para sempre me lembrar de escrever uma página por dia. Talvez tatuar isso na mão e olhar todo santo dia. Acho que ia ajudar muito.
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sábado, junho 03, 2006
By Flávio Souza on sábado, junho 03, 2006
O tecido de carvalho da mesa recoberto por uma poça e a visão do paraíso. Eleudina abre os olhos. A íris em flor, formada em tons de centeio e milho. A pupila negra arrematando a íris, o globo ocular recortado por línhas esquizóides de sangue. A cara alegre, os olhos abertos, o olhar daqueles que sabem. Abre o piano, a mão lânguida escorrega, toca - duas teclas, o pedal. E de súbito uma fraqueza lhe vem como que a tontear pela sala. Sons de cordas, arpejos, toques longíncuos dos anjos. A cabeça rodopia, a tonteira lhe derruba junto ao órgão. Segura-se, respira. Olha para as gotas e a poça e a mão. Eleudina inspira. O peito esguio de tez moura entreaberto em farto decote é inflado num solfejo. Os lábios se fecham como uma boca de desdém. Olha para o teto, a luz amarela, relembra a poça. Tateia de novo o carvalho, sente o caldo grosso.
Quando pequena, haviam lhe dito para não brincar com as facas da cozinha. Mas desde então, como receituário indicado, sempre roubava uma delas. A "Amélia" era sua preferida. O cabo quebrado lhe fizera trançar cem cordas em volta. Mas o corte era bom. Boa de segurar, boa de cortar. Mas acima de tudo lhe divertia enfiar a amélia nas sacas de feijão que a tia comprava a cada semana. Seus olhos orbitados contemplavam o brilho, a língua lambia o corte da lâmina. A faca entrava, saía, mergulhava. Era uma repetição fálica, quase-sabia. Vários tapas por isso recebera. Tapas no ouvido de perder o rumo. Chorava, corria, mas a faca ninguém pegava. Era dela, só dela. Amélia dormia em sono de vigília, um olho meio aberto, sempre. Amélia ao lado, à esquerda.
Por vez surgia-lhe o espantamento. Um quê de não saber o propósito das coisas. E já não sabia por onde e nem quando viera a paixão por Amélia. E já não mais... no esquecimento também queria-lhe ao lado. Sua filha lhe gritava: "Mããe! ôh minha mãe, larga isso, larga dela". Mas corria. Eleudina abria os olhos, sorriso daqueles que sabem, voltava ao quarto. Ajoelhava-se, orava, sentia os ossos cutucarem a pele no ombro. "Aaaahh maldita, pensava! Éh! É ela o diabo! Tá me querendo! Tá te querendo!" E então abraçava Amélia junto ao peito e dançava. Aaaahhh como Eleudina dançava. Os tacos carcomidos dos vários rodopios como testemunhas eternas da insava vontade. Mas... "sshhh ninguém pode saber! Vocês! Fiquem quietos"... O dedo bravo apontava para o chão.
O marido a deixara há quatro anos. Não ligara. Acordava sempre com o travesseiro ensopado, mas nunca deu a isso um porquê. "Vou cozinhar, éh!" Mas de novo, como uma dor agora doce, a língua molhada engasga, a pele fria. Cai.
E de súbito a luz da porta aberta, Amélia, a filha com ela junto ao peito. A luz e um corpo. Nada mais.
Quando pequena, haviam lhe dito para não brincar com as facas da cozinha. Mas desde então, como receituário indicado, sempre roubava uma delas. A "Amélia" era sua preferida. O cabo quebrado lhe fizera trançar cem cordas em volta. Mas o corte era bom. Boa de segurar, boa de cortar. Mas acima de tudo lhe divertia enfiar a amélia nas sacas de feijão que a tia comprava a cada semana. Seus olhos orbitados contemplavam o brilho, a língua lambia o corte da lâmina. A faca entrava, saía, mergulhava. Era uma repetição fálica, quase-sabia. Vários tapas por isso recebera. Tapas no ouvido de perder o rumo. Chorava, corria, mas a faca ninguém pegava. Era dela, só dela. Amélia dormia em sono de vigília, um olho meio aberto, sempre. Amélia ao lado, à esquerda.
Por vez surgia-lhe o espantamento. Um quê de não saber o propósito das coisas. E já não sabia por onde e nem quando viera a paixão por Amélia. E já não mais... no esquecimento também queria-lhe ao lado. Sua filha lhe gritava: "Mããe! ôh minha mãe, larga isso, larga dela". Mas corria. Eleudina abria os olhos, sorriso daqueles que sabem, voltava ao quarto. Ajoelhava-se, orava, sentia os ossos cutucarem a pele no ombro. "Aaaahh maldita, pensava! Éh! É ela o diabo! Tá me querendo! Tá te querendo!" E então abraçava Amélia junto ao peito e dançava. Aaaahhh como Eleudina dançava. Os tacos carcomidos dos vários rodopios como testemunhas eternas da insava vontade. Mas... "sshhh ninguém pode saber! Vocês! Fiquem quietos"... O dedo bravo apontava para o chão.
O marido a deixara há quatro anos. Não ligara. Acordava sempre com o travesseiro ensopado, mas nunca deu a isso um porquê. "Vou cozinhar, éh!" Mas de novo, como uma dor agora doce, a língua molhada engasga, a pele fria. Cai.
E de súbito a luz da porta aberta, Amélia, a filha com ela junto ao peito. A luz e um corpo. Nada mais.
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segunda-feira, abril 10, 2006
By Flávio Souza on segunda-feira, abril 10, 2006
Eu vivo na cidade ao lado onde mora o esquecimento de mim.
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sexta-feira, março 24, 2006
By Flávio Souza on sexta-feira, março 24, 2006
"Uma cor violácea, uma cor que viole a negritude do humor, que a violente e transforme em aberta rosa os lábios do olhar..." Ele pensava em rimas tortas e pedaços de versos, perdido num redimunho de imagens. A rua cinza, concreto escuro, desfralda num aqui-ali de angulares pedras. A chuva cai em pingos de água mole. Pedaços de flor lhe cercam pelo chão e o banco. Pedaços de violácea cor. Ricardo estende a mão, um pedaço de braço à sombra do paletó. A água e uma pétala púrpura, pedaço de rosa aberta lhe cai pela face. Lembrou-se da aula e da perda, da semana e da noite, maldormida. Malcomida vida de não-fazer, mal agrúrios retocados de esperança. A mão desliza a face áspera como o dia desliza o corpo áspero. Uma ruga ergue a testa enquanto o pingo, grande, lhe cai ao lábio. O gosto terra, meio água-suja, meio... a cor, violácea... seus pensamentos retomam o rumo do verso. Teima em terminar e busca a palavra final. Quer a custo violar o rumo de seus passos, ali parado. Emenda um verso, recorta a memória, engole em seco.
Ricardo, de sobrenome Cruz, não está só. A perda da semana lhe acompanha, mas também a chuva e também o minuto agora em paz. Aperta o lábio, morde a boca, responde enfim ao poema da pergunta. A caneta escreve, o papel aceita. "Meu verso último não rima, nasceu violado, mal enfeita. É um lírio, estranhezas em receita, um mar de rosas, uma flor qualquer, desejo, vontade de me jogar, vontades de ti querer, querer nos girar, virar, morrer, matar... solilóquio só de afetos a sangrar o dia, rompendo as sombras do humor."
O livro se fecha, mal poema, comentários a fazer. O passo segue, a rua molhada. Mas a violácea flor saiu dali, grudou no paletó.
Ricardo, de sobrenome Cruz, não está só. A perda da semana lhe acompanha, mas também a chuva e também o minuto agora em paz. Aperta o lábio, morde a boca, responde enfim ao poema da pergunta. A caneta escreve, o papel aceita. "Meu verso último não rima, nasceu violado, mal enfeita. É um lírio, estranhezas em receita, um mar de rosas, uma flor qualquer, desejo, vontade de me jogar, vontades de ti querer, querer nos girar, virar, morrer, matar... solilóquio só de afetos a sangrar o dia, rompendo as sombras do humor."
O livro se fecha, mal poema, comentários a fazer. O passo segue, a rua molhada. Mas a violácea flor saiu dali, grudou no paletó.
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quarta-feira, março 15, 2006
By Flávio Souza on quarta-feira, março 15, 2006
A volta do boêmio
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