Existe um Flávio, uma Maria, um Rosalvo e uma Mercês que habitam em outros cantos e mares que não este — o conhecido. Existe um eu, menino escondido em meio a um barril, que amontoa causos e estórias para contar. Existe um eu, mais velho e barbudo, próximo à eternidade, destemido pelos xadrezes com a morte, disposto a contar a estória de suas estórias.
Maria se escondia abaixo das flores, cantando versos em latim. Seu cachorro, sabidamente entendia tudo. Rosalvo, menino de sardas, roubava goiabas de seu vizinho gigante barbudo. Seu sonho era ter uma banca de jornais. Já Maria era mil aprontações — rasgava panos e costurava vestidos para suas bonecas. Ao crescer, esquecida, tropeçou em uma delas. O bracinho, coitado, partira-se. E Mariazinha, agora Maria ficou a se olhar no espelho.
"Não mudamos, apenas nos escondemos...", refletiu ela. A maturidade é um esconder-se da criança que há em nós. Rolar pedras, brincar de gigantes, rodopiar em bailes de príncipes... Ter medo e se esconder do bicho que mora abaixo da cama, contar as tardes na espera das fábulas da noite... Todo este mundo nos espreita com cara intrigada e risonha.
E pensar que alguns morrem antes da coragem chuta-balde da velhice, da época em que não temos nada mais a temer a não ser o próximo movimento da enxadrista morte. Interrompidos no tempo, deslocados por um "sem-saber-porquê". Há, por certo, uma razão-mistério na demiurgia regressa de nossos eus. Talvez, caiba a apenas alguns o testemunho das priscas eras, o desvelar desavergonhado de nossos medos e aventuras recônditos.
Um quê anglo-saxônico de dragões e bichos estranhos habita minha alma tolkiniana misturado às endinheiradas aventuras do velho Patinhas. E nisso me bate a saudade das fortalezas e aviões de outrora, carrinhos Matchbox e seriados japoneses. Eu habitava em um mundo estranho, vizinho dos mundos estranhos de Maria, Rosalvo e Mercês.
E nisso me encontro agora, reconstruindo minhas eternas cabanas na mata, a me proteger da chuva. Na rua, lá fora, as gotas caem... e os carros buzinam!
Maria se escondia abaixo das flores, cantando versos em latim. Seu cachorro, sabidamente entendia tudo. Rosalvo, menino de sardas, roubava goiabas de seu vizinho gigante barbudo. Seu sonho era ter uma banca de jornais. Já Maria era mil aprontações — rasgava panos e costurava vestidos para suas bonecas. Ao crescer, esquecida, tropeçou em uma delas. O bracinho, coitado, partira-se. E Mariazinha, agora Maria ficou a se olhar no espelho.
"Não mudamos, apenas nos escondemos...", refletiu ela. A maturidade é um esconder-se da criança que há em nós. Rolar pedras, brincar de gigantes, rodopiar em bailes de príncipes... Ter medo e se esconder do bicho que mora abaixo da cama, contar as tardes na espera das fábulas da noite... Todo este mundo nos espreita com cara intrigada e risonha.
E pensar que alguns morrem antes da coragem chuta-balde da velhice, da época em que não temos nada mais a temer a não ser o próximo movimento da enxadrista morte. Interrompidos no tempo, deslocados por um "sem-saber-porquê". Há, por certo, uma razão-mistério na demiurgia regressa de nossos eus. Talvez, caiba a apenas alguns o testemunho das priscas eras, o desvelar desavergonhado de nossos medos e aventuras recônditos.
Um quê anglo-saxônico de dragões e bichos estranhos habita minha alma tolkiniana misturado às endinheiradas aventuras do velho Patinhas. E nisso me bate a saudade das fortalezas e aviões de outrora, carrinhos Matchbox e seriados japoneses. Eu habitava em um mundo estranho, vizinho dos mundos estranhos de Maria, Rosalvo e Mercês.
E nisso me encontro agora, reconstruindo minhas eternas cabanas na mata, a me proteger da chuva. Na rua, lá fora, as gotas caem... e os carros buzinam!