★ Flávio Souza Cruz ★

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sexta-feira, março 24, 2006

"Uma cor violácea, uma cor que viole a negritude do humor, que a violente e transforme em aberta rosa os lábios do olhar..." Ele pensava em rimas tortas e pedaços de versos, perdido num redimunho de imagens. A rua cinza, concreto escuro, desfralda num aqui-ali de angulares pedras. A chuva cai em pingos de água mole. Pedaços de flor lhe cercam pelo chão e o banco. Pedaços de violácea cor. Ricardo estende a mão, um pedaço de braço à sombra do paletó. A água e uma pétala púrpura, pedaço de rosa aberta lhe cai pela face. Lembrou-se da aula e da perda, da semana e da noite, maldormida. Malcomida vida de não-fazer, mal agrúrios retocados de esperança. A mão desliza a face áspera como o dia desliza o corpo áspero. Uma ruga ergue a testa enquanto o pingo, grande, lhe cai ao lábio. O gosto terra, meio água-suja, meio... a cor, violácea... seus pensamentos retomam o rumo do verso. Teima em terminar e busca a palavra final. Quer a custo violar o rumo de seus passos, ali parado. Emenda um verso, recorta a memória, engole em seco.

Ricardo, de sobrenome Cruz, não está só. A perda da semana lhe acompanha, mas também a chuva e também o minuto agora em paz. Aperta o lábio, morde a boca, responde enfim ao poema da pergunta. A caneta escreve, o papel aceita. "Meu verso último não rima, nasceu violado, mal enfeita. É um lírio, estranhezas em receita, um mar de rosas, uma flor qualquer, desejo, vontade de me jogar, vontades de ti querer, querer nos girar, virar, morrer, matar... solilóquio só de afetos a sangrar o dia, rompendo as sombras do humor."

O livro se fecha, mal poema, comentários a fazer. O passo segue, a rua molhada. Mas a violácea flor saiu dali, grudou no paletó.

quarta-feira, março 15, 2006

A volta do boêmio

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