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quarta-feira, novembro 08, 2006

"Na lúgrube cela empoirada dos meus cuidados, há um quê de folhas verdes que teimam em se erguer. Os galhos do sustento são como linhas de cobre entrelaçadas. Perfuram o céu, perfuram a terra, perfuram a mim. E da transfusão colhida, me dou ao prazer do encharco. Três linhas a menos e nada a dizer. O texto se come às avessas. Aperto a esponja que sou à espera da fuga dos insetos. Uns sempre ficam, maledicentes. E assim vou, caminhando com as folhas de esperança, o remoer dos galhos e o aspergir dos insetos. O passo é vagoroso, o mundo é grande, mas eu o mastigo."

Zidur parou à porta do amigo. Bateu três vezes - o aviso combinado. Um sorriso acolhedor aparece. Entram. A poltrona serve agora como o espaço da lonjura próxima. Zidur fala então das últimas músicas que ouvira, conta sobre a vontade de ir ao jogo no domingo e aguarda ansioso pelo cafezinho servido. Ele repara a atriz gostosa na TV, elogia em eufemismo. Sorri. Um inseto abre as asas lá por dentro. Coloca uma perna sobre a outra, o tempo passa. Jogam cartas, buraco, quem sabe. Gritam, bebem cerveja. A patroa do amigo traz uma porção de pastelzinhos portugueses. Comeram, gritaram, riram e beberam mais. A porta se abre, entra o Cláudio, outro amigo. Fecha-se uma roda. A noite prossegue, o papo é bom. O amigo mostra as novas músicas e agora temos um misto de debate a apreciação. Um pouco mais quieto, Zidur sente o som de Ute Lemper e relembra algo não vivido. Duas, três horas da manhã, hora de ir. Despedem-se.

E tudo fizeram sem se ver. E tudo fizeram como que em um breve tocar de galhos. Na hora do café, uma folha do amigo caiu. Olharam-na, mas ninguém a pegou. No prosaico encontro, era melhor o pastelzinho a comer a vida. Zidur, discreto, fechou os olhos e sentiu o percevejo lhe correr nas costas.

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