★ Flávio Souza Cruz ★

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domingo, julho 16, 2023

 



Dobrar as palavras com paciência, ternura e chibata faz do prático um alfaiate. Hoje mesmo escrevi ser Zé Ninguém. Um ninguém enfeitiçado, diria. As circunstâncias me tornaram gado de redemoinho selvagem. Vivo sem rumo, fato. Meus quereres foram desvarios. Enfim, neste aprumado devagar, melhor tomar rumo e falar do coração. Este testemunho é para falar da estrada. A estrada é o Grande Sertão. O sertão é um vazio. O Vazio é um sertão que dói. É penúria, é pujança, é riqueza e é pobreza, é poeira de não ter fim. É achado, aberto, pelado e sem rumo. Desatino de estrada e vontade... Ah... a vontade que me fez ir lá. O desatino pandêmico, o plano de me salvar, de ir embora, de sumir no mundo. O sertão me prende e liberta, seduz, me leva de volta. Me tornei parte do todo, de existir naquilo lá, ser gente eloquente, gente enlouquecida.

Me perdi na encruzilhada logo após a risada do velho "Num é perto, naummm" - Sim, e tudo foi mesmo longe, foi muita espera e muita ida empoeirada. Mas também lama, também bosta, também diarreia e pé quebrado. Mosquitada sangrenta e carrapato viajante. É água benta de rio, é sentar pra ver a tarde. Contemplar os Buracos, os vãos, rio Pardo, São Francisco e as Velhas. Encontrar os bichos no bicho-homem. Sentir as rezas, ser tomado por elas, prosear com o Caboclo e escutar "conseio" — "Muita inveja no caminho, meu fio, mas seu rumo vai dar certo"! Deus te ouça, meu bom! Me desdobrei de mim e neste rumo dei meu Berro! O Sertão foi isso: minha garganta varando o infinito no alto da Serra. Meu berro virando arma, minha alma soltando espora. Eu chorei pois também no grito, veio parto. Pari galhos e os galhos brotaram de mim. Foram vidas, olhares, veias e risadas, entremeios e preces - juntei os cacos de mim para torná-los raízes. Eu pari uma árvore. A árvore seca, repleta de vida. A árvore-vida tornada barro. O esterco do mundo me banhando em tudo. O sertão te muda e me inunda. O sertão me revira. Arvora. E me jogo em tudo. Coração, asa, sangue e prosa. Meus olhos mergulharam na lente, minha vida engolida na máquina. A máquina virando min'alma. Meus sonhos se tornando momentos. Os momentos me chamando de volta. A estrada virando eu. Meu eu virando sertão. Minha lágrima beijando a vida. Alguém me chamou lá de cima para isso. Disse lá: "Flávio, vá correr sertão! Flávio, vá virar sertão!" E eu fui...

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