★ Flávio Souza Cruz ★

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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Barbaridade! Quinta-feira, sete e cinquenta e quatro da manhã. Oito dias postando ininterruptamente por aqui. Creio que nunca tinha feito isso antes no Epifania. E o mais interessante é que aqui nem público existe mais. Como eu havia abandonado o mundo dos blogs. O mundo dos leitores de blogs também me abandonou. Mas enfim... vou vivendo de leitores imaginários, que postam diariamente por aqui. Enquanto isso vou reconstruindo as paredes das minha palavras, agora um tanto quanto teológicas e introspectivas.

Ontem eu terminei de pegar o filme Neverending Story no DC++. Creio que devo viver num destes universos paralelos de Fantasia. Por sinal, no mês passado comprei o livro da História Sem Fim. Pois é, existe um livro com este nome e foi escrito pelo alemão Michael Ende. O próximo dele que irei adquirir é Momo e o Senhor do Tempo. Quando meu filho vier a este nosso mundinho, creio que vou passar horas e horas e horas com ele vendo e lendo essas coisas todas. Quando, por sinal, pequeno eu era, achava que haveria de passar por diversas fases na vida e me mudaria, ficando talvez quem sabe mais sério. Bom, isso é uma meia-verdade. O lado criança sempre permanece em nós e... bundão é aquele que não se mostra enquanto criança. Por falar nisso... você, leitor casual ou corajoso que aqui aportou, não deixe de ler Akanutis, logo abaixo deste post.

Voltando aos livros, acabei agora de criar uma lista de presentes no Submarino para mim, incluindo o livro do Momo. Se algum bom Mecenas se habilitar, vai fazer um escritor-leitor bem feliz.

Ps. Ontem foi um dia de Déjà Vu, como se um filme se repetisse em mim.



[Ouvindo: Never Ending Story - Limahl - Greatest Hits Of The 80s (Cd3) (3:28)]

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Vem! Recorta teu salto em grande passo. Vem. Se achegue com a pálpebra aberta. Teus pêlos para mim são sirius, estrelas envoltas em tez. Cala agora teu pulso. Soluça baixinho para te sentir lá dentro. Sou um lápis a te desenhar nas horas internas. Pois então faça-te. Apaga meus lábios com as cores do perdão. Socorre-te a mim resgata. Sou Akanutis, a palavra esquecida que te criou. Mata-me agora, ergue-te. Sofrega-te no meu calor. Sou agora giz e letra viva no teu quarto das horas. Passa-me, esquece-me akanutis, para sempre amada. Solta-me, livra-me, morre-me, fala-me - eu sou agora em ti, dizendo, amém-me.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Tive um debate um tempo atrás com um rapaz criacionista que advogava ser o Genesis um livro histórico, dentre outras "viagens" criacionistas. Pois bem, vou postar aqui minha resposta a ele, basicamente sobre o texto em Genesis 1. Inicialmente, em minhas considerações, falarei um pouco sobre o paralelismo, uma forma típica da poesia judaica bíblica. Então vamos lá:

Vamos acompanhar o que o Centro de Pesquisas do Hebreu Antigo tem a nos dizer sobre o paralelismo: Como a poesia hebraica é escrita de uma forma muito diferente do que o nosso próprio estilo ocidental de poesia, muitos não reconhecem a poesia, o qual pode causar problemas quando da tradução ou interpretação das passagens. Aproximadamente 75% do Tanach (Velho Testamento) é poesia. Todos os Salmos e Provérbios são poesia hebraica. MESMO O LIVRO DO GENESIS É REPLETO DE POESIA. Existem diversas razões para os Hebreus terem usado poesia. Muito da Torah foi cantada. Poesias e canções são mais fácies de memorizar do que textos corridos. A poesia paralelística (COMO em GENESIS 1) enfatiza algo de grande importância, como a estória da criação o é. Os rabinos acreditavam que se alguma coisa é digna de ser dita, ela deve ser ditaa de uma forma cheia de beleza. Existe muito mais poesia na Bíblia do que muitos pensam porque a maioria das pessoas não a entende.[Tradução nossa]

Alguns sites de apologética criacionista tal como o Christian Answers [que sustenta a insustentável idéia de que foi Moisés quem escreveu a Torá] ou o Lambert Dolphin através de alguns artigos tais como Syntax and Semantics in Genesis One e Is Genesis Poetry or Historic Narrative sustentam a idéia de que Gênesis 1 seria uma narrativa histórica ao invés de um texto poético. O argumento básico utilizado é o que o texto em Gênesis não contem a estrutura básica do poema hebraico chamado paralelismo. Tal estrutura poética se dá quando o autor se utiliza de duas ou mais formas diferentes para falar sobre algo. Inexistiria tal estrutura então no Gênesis? Confiram o que este artigo tem a nos dizer sobre isso. A conclusão do mesmo se dá na seguinte forma: Deve ser lembrado que os modernos pensadores ocidentais vêem os eventos em uma lógica de etapas. Esta é a a idéia de que cada evento vem depois de um prévio formando uma série de eventos em uma linha do tempo linear. Mas os Hebreus não pensam em uma lógica de etapas mas em uma lógica de blocos. Isto é o agrupamento conjunto de idéias similares juntas ou não em uma ordem cronológica. A maioria das pessoas lêem o Capítulo 1 do Gênesis através de uma perspectiva de lógica de etapas ou cronológica, menos do que através de blocos lógicos tão comum na poesia hebraica.[tradução nossa]Como pode ser visto, a devida atenção às tradições orais do povo hebreu bem como da real e concreta atenção às variações da forma poética do paralelismo irão nos mostrar a poeticidade do texto em Genesis.

Como um belo exemplo dessa poeticidade, podemos encontrar nessa tradução para o inglês ou na versão de Haroldo de Campos [BereShit], certamente um dos nosso maiores tradutores nacionais, a qual colocarei os primeiros versos e que pode ser encontrada à venda aqui :

1. No começar Deus criando
O fogoágua e a terra

2. E a terra era lodo torvo
e a treva sobre o rosto do abismo
E o sopro-Deus
revoa sobre o rosto da água

3. E Deus disse seja luz
E foi luz

4. E Deus viu que a luz era boa
E Deus dividiu
entre a luz e a treva

5. E Deus chamou à luz dia
e à treva chamou noite
E foi tarde e foi manhã
dia um....

Finalizando, me lembro de uma frase de um amigo poeta, o Flávio Boaventura que nos dá uma dica bem sutil sobre a questão da sensibilidade e da poesia. A frase é a seguinte:"Quem define a poesia, definha a poesia."

Ps. Estes criacionistas realmente são da pá-virada. Geralmente sempre tem algum físico Phd da Nasa que lecionou no MIT ou alguma Universidade Européia e tal... nunca falta. Mas o cúmulo do cúmulo é realmente este site chamado The Earth is Not Moving.

[Ouvindo: Brade - Canzon - (205) (Music of the Waits) - Dance Music of the High Renais (2:50)]

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Meu Deus! É impossível escrever qualquer coisa que valha a pena neste calor!!! Não creio ser preconceituoso quando afirmo que o calor conduz à indolência. Já postei sobre isso, creio, no finado Hiperfocus, mas quando o calor bate dessa forma, eu me lembro daqueles filmes a la Casablanca. Parece que estou em um escritório, daqueles com arquivos e ventiladores antigos, com o ar tremeluzindo em ondas e o suor escorrendo por sobre a mesa. Hhhummm - certamente estaria fumando um charuto também, cubano de preferência.

domingo, janeiro 23, 2005

Lilith é um ser lendário, extremamente controverso e interessante. Na Bíblia, de fato, há apenas uma passagem citando Lilith, que se encontra em Isaías 34:13-15:

"Nos seus palácios crescerão espinhos,
urtigas e cardos, nas suas fortalezas:
ela servirá de morada para os chacais,
de habitação para os avestruzes.
Os gatos selvagens conviverão aí com as hienas,
os sátiros chamarão os seu companheiros. Ali descansará Lilit,
e achará um pouso para si.
Ali a serpente fará o seu ninho, porá os seus ovos,
chocá-los-á e recolherá à sua sombra a sua ninhada."
[trad.Bíblia de Jerusalém]

Este trecho se refere ao chamado "Julgamento de Edom", sendo que os capítulos 34 e 35 de Isaías são frequentemente chamados de "pequeno apocalipse". No nosso trecho específico, percebemos a formação da Morada Lúgubre, o local onde Lilith habitará. Trata-se do contrário do paraíso mostrado em Isaías 11,1-9.Mas afinal, quem é Lilith? Bem, essa pergunta não permite apenas uma resposta, dada as variadas versões acerca deste ser. Provavelmente a mais antiga fonte conhecida sobre a figura de Lilitth se encontra na Epopéia de Gilgamesh. Temos duas passagens. A primeira quando se fala da genealogia de Gilgamesh, o qual seria o quinto rei da cidade de Uruk [Arac ou Erech em Gênesis 10,10]:Gilgamesh, cujo pai foi um Lil-la, um sacerdote de Kullab [=quartel de Uruk], reinou 126 anos. [fonte:KLUGER, Rivkah. O Significado Arquetípico de Gilgamesh, p.28.]

A análise de Kluger recorre à tradução de Contenau, que julga que o termo Lil-la esteja vinculado ao termo Lil-lû, que é um demônio. A sua contrapartida feminina, Ardat-lil-li, é um súcubo perigoso para os homens. Por sua vez, Lil-lû é um incubo, que teria se unido à mãe de Gilgamesh, a deusa Nin-Sun, uma sacerdotisa do deus-sol Shamash, sem o conhecimento do seu esposo, o divino Lugalbanda. Assim, Gilgamesh seria filho de uma deusa e de um demônio.[KRUGLER, p.29] Diferente, no entanto, da passagem da bíblia e da tradição judaica, temos aqui um demônio masculino ao invés de um feminino. Essa outra passagem nos mostra Litith como um demônio, que constrói sua casa no tronco de uma árvore.Foi encontrado também nos Manuscritos do Mar Morto uma passagem sobre Lilith, mostrando-a como demônio. No caso específico, Lilith aparece no plural, como demônios. No Talmud encontramos já uma referência entre a ligação entre ela e Adão. Porém, é somente no chamado Alfabeto de Ben-Sirah que encontraremos a lenda de Lilith como sendo a primeira esposa de Adão. Trata-se de um livro medieval, não fazendo parte dos Midrash ou do Talmud e sua ligação com o judaísmo tradicional é, no mínimo, problemática, como podemos ver aqui.

Lendas Judaicas sobre a Criação

Na compilação das lendas judaicas realizada por Bin Gorion, temos algumas interessantes passagens sobre Lilith:

"Depois que o Senhor criou Adão, disse: não é bom que o homem esteja só. E da terra com a qual formara Adão, fez uma mulher e a chamou de Lilit. Logo depois os dois tiveram uma desavença e Lilit disse: És apenas meu irmão, ambos fomos tirados da terra! E um não acatava a palavra do outro. Quando Lilit viu que não tinha paz, proferiu o verdadeiro nome de Deus e levantou vôo."[GORION, p.52]

Outra lenda: "Depois que a primeira luz da Criação foi encoberta, foi criada a Kelipa, a maldade original. E da Kelipa surgiu um ente duplo, que se assemelhava a ela (Semael, o mau espírito, e Lilit, sua mulher."[GORION, p.53]
"Mas depois que Adão e Eva cometeram o pecado, o Senhor tirou Lilit novamente das profundezas do mar e lhe concedeu o poder sobre a vida das crianças; deveriam sofrer os castigos pelos pecados de seus pais."[GORION, p.53]

Outra lenda:"Mas enquanto Adão estava separado de Eva por cento e trinta anos e dormia sozinho, Lilit o encontrou e desejou sua beleza. Ela deitou-se a seu lado e dele concebeu um sem-número de diabos, espíritos e demônios." [GORION, p.53]

As traduções Bíblicas

É comum que algumas bíblias traduzam a passagem citada de Isaías na qual aparece o Lilith como Coruja. A questão que vc coloca é de fato pertinente e tem a sua lógica. Creio, no entanto, que este texto aqui esclarece a questão da tradução de Lilith como uma coruja. Acerca deste fato, é importante também observar a citação de Lilith no Talmud como um demônio [e não como um animal], bem como a refutação iconográfica de Lilith como coruja, mostrada neste texto. A palavra original em hebraico é lilith. O problema referente a ela, no entanto, como mostra o texto que citei é que ela é um hapax legomenon [chique né!], uma palavra que aparece somente uma vez em todo o texto bíblico e por isso dificulta a análise comparativa. Mas enfim, eu prefiro as traduções que não fazem esse tipo de operação - por exemplo, chamar Yahweh de Senhor e é por isso que gosto da "Bíblia de Jerusalém"; na minha modesta opinião, a melhor que temos em português.

Iconografia e Cristianismo

É possível ver nessas gravuras uma POSSÍVEL apropriação da lenda judaica pelo cristianismo, mostrando uma serpente com cabeça feminina entregando o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal à Eva. No site do Artmagick, o leitor poderá encontrará uma belíssima pintura de Lilith , envolta por uma serpente, feita pelo artista britânico John Collier no século XIX.

Bom, enfim. Creio ter dado algumas pistas para uma maior pesquisa, caso o leitor tenha interesse nessa mítica e sedutora criatura. Lilith, principalmente por sua criação oriunda da mesma terra da qual Adão foi criado e por sua não-submissão a este, muitas vezes é utilizada como um arquétipo de mulher independente. Porém, justamente por essa independência e por atitudes fortes, acaba sendo punida pelo criador.

[Ouvindo: The Promised Womb - Dead Can Dance - Dead Can Dance 1981-1998 (3:25)]

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