★ Flávio Souza Cruz ★

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★ F A N T A S Y ★

quarta-feira, maio 25, 2005

Há dias, devo recordar, em que o sangue costura trapos no aquém da carne. Serpenteada em noites, a trilha vermelha traça canais em meu olhar. Em camadas, ela se faz num mapa de rios dolorosos. Os cílios os escondem reverentes ao soar de um sorriso leve. E cada traço é um rosto, cada traço é um poço de lembranças a fechar. Coloco algodões em meus sentidos, algodões em meus olhos. Abro a gaveta dos anos e manueseio o apagador amigo. Há dias, devo recordar, em que a volúpia jaz ali coagulada. A vontade é um soco, o querer é um nada. Há dias, queira acordar, que no aquém dos trapos, a alma jaz morta e a carne é terna.

Imagem: Nadia Maria


segunda-feira, maio 23, 2005

Dizem que uma estória é boa quando se coloca carne e fé, sol e trevas nela. E que da carne há de escorrer fé e do sol um pique-esconde nas trevas. Me diziam, repito, que devo fazer minhas Marias, Carlos, Rodrigues e Armínias com o lodo quente das palavras que se carregam a dedo. Criar círculos nas terras longíncuas e enfeitá-los de dramas e prosaismos de ruelas. Mas em tudo, nos últimos segundos, não tenho visto a vida no deserto estrelado da noite. Reparo, quero dizer - parca é a vida naqueles céus dos corações de pedra. Um tanto quanto, pode ser em Bento Garcia, em Olivério Carneiro, ou no sertão de Jequitá, mas sempre, e somente sempre naqueles céus de Maria Luisa. Certo dia, ela me disse, contando em segredo - "Ernesto, a amizade verdadeira é como uma estrela..." E eu, absorto em Alpha Centauri tentava entender. Sentia a luz, sentia o blues, mas nada flaming, tão certo e quente como a velada amizade. Eu olhava a noite e um rosto longínquo, faraway era tudo. Eu pensava, retorcendo a barba "Mas como entender as estrelas se o nosso céu é manto negro de cidade grande?" Nasci em pedra, nasci em neón, nossas estrelas são postes desencarnados. E Maria Luisa sorria. Era um sorriso manso, maroto, escondido entre lábios. E eu ficava lá, pensando com a vida, lutando com os rompantes de estrela. Numa bela noite, me imaginei deitado ao penhasco, me untei de carne e fé e olhei para as trevas. E lá, bem longe, neón calado, no prepúcio do mundo eu senti.

terça-feira, maio 17, 2005

E não é que este cantinho aqui do Epifania passou dos 5 mil visitantes?! Para um canto assim escondido, tá até bão demais! Parabéns a todos! Merci!

segunda-feira, maio 09, 2005

Há dias em que o começo é um acordar não-verbal. E nestes me incluo ritualmente. Nestes e em tudo me repito vinte quatro horas como um repuxar de parto. Não grito mais, quero dizer - não falo, me recolho. Pois em tudo, quase em prece, aprendi o sagrado gritar do silêncio. As mãos quase se encontram num espalmar beneditino. Os olhos vagueiam enquanto a acentuação se eleva. Interrogo, exclamo, me pontuo em reticências, relembro. Há dias em que o começo é um acordar não-verbal. E nestes me refaço visceralmente. Nestes e em tudo me repito vinte e poucas horas relembrando uma. Não digo mais, quero dizer - não falo, mas grito. Pois em tudo, gesto que me veste, me envolvi ao calado gritar do silêncio.

quarta-feira, maio 04, 2005

Há dias em que me dedico ao suave murmurar do nada. Há dias em que me dedico a olhar o dia passando. E tudo, quase tudo, me parece o gesto do ponteiro repicando segundos. Há dias em que não vejo o sol e há dias em que mergulho na luz dos amperes. Nestes eu me colo ao tempo como uma pintura de Goya. De olhos estatelados, sempre abertos, me impressiono. Eu me assusto suavemente em pálpebras largas. Há dias, e este é um deles, em que meus olhos empalam as fotos da vida. Rasgo as lembranças e amacio as pequeninas coisas. Vejos os contornos, as cores e os tons, bem colados à parede. E os sentidos ocultos se perdem na distância mais oculta. Pois o sentido é dos dias me desfazer dos sentidos. Pois há dias, e este é um deles, em que me desfaço junto à parede.

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