★ Flávio Souza Cruz ★

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sexta-feira, junho 20, 2003

De uma boa indicação e da ânsia desatada fez-se a volúpia da compra e eis que aí está o livro - O Mundo como Idéia, de Bruno Tolentino. Estou lendo e até o momento, recomendo a todos.

"Cantar não deixa marcas no fugaz,
não molda o passageiro, não alcança
nem sequer os perímetros da dança,
o canto é apenas outro sopro a mais.
A mente quer sumir, fundir-se atrás
da sombra de uma chama, não se cansa
de fazer como faz uma criança
buscando se esconder sem ser capaz
senão de amontoar-se entre os lençóis...
Não vejo como alcance atravessar
o centro da fogueira e virar voz:
o grito que circunda de lugar
em lugar o real desfaz-se em nós
e o que alcança dizer some no ar."



quarta-feira, junho 18, 2003

Well, well, well... após um período enevoado, caminhando por caminhos vários nas terras do Eu Profundo e Outros Eus, eis que os comentários voltaram. Meu outro blog Hiperfocus se tornou uma cinza virtual e um outro novo surgiu, no entanto perdido ainda pela net. No mais, por enquanto, apenas anotar o endereço novo do Caderno Mágico do Dennis.

segunda-feira, junho 16, 2003

Abandonei o hábito de ler. Não leio mais nada exceto um ou outro jornal, literatura leve e ocasionalmente livros técnicos referentes a algum assunto que possa estar estudando e no qual o simples raciocínio possa ser insuficiente.
Quase que abandonei o tipo definido de literatura. Poderia lê-la para aprender ou por prazer. Mas nada tenho que aprender e o prazer que se pode colher de livros é de um tipo que se pode substituir com vantagem por aquele que o contacto com a natureza e a observação da vida podem diretamente proporcionar-me.
Encontro-me agora de plena posse das leis fundamentais da arte literária. Shakespeare não pode mais ensinar-me a ser sutil, nem Milton a ser completo. Meu intelecto atingiu uma flexibilidade e um alcance que me possibilitam assumir qualquer emoção que desejo e penetrar à vontade dentro de qualquer estado de espírito. Quanto àquilo por que lutar é sempre um esforço e uma angústia, a plenitude, nenhum livro pode servir absolutamente de ajuda.


Colhi estas palavras de notas pessoais de Fernando Pessoa, provavelmente escritas em 1910, as quais me lembram em alguma medida o Ecce Homo de Nietzsche. Não que exista lá alguma passagem semelhante, mas o que me lembra é a impressão formada pela leitura do texto. Um ego levado às alturas ou um reconhecimento seco e límpido de seu próprio poder? Ora, quando Pessoa escreveu essa passagem ele nem de longe era o Fernando Pessoa que veio a ser para a literatura ainda vivo, nem muito menos o clássico da literatura que temos hoje. Mas... entendamos... "ele sabia"... Suspeito pensar se todo clássico "sabe" de seu poder, mesmo ainda em latência e me questiono agora sobre a loucura e prepotência daqueles que também "se pensam ser"...

"Descobri que a leitura é uma espécie de sonho escravizador. Se devo sonhar, por que não sonhar os meus próprios sonhos? (...)", e assim se fecha a pergunta que não quer calar e que já se sabia respondida em cada volteio e festejo ao ego. Mas ele... pode.

quinta-feira, junho 12, 2003

Um dia, fim de tarde num estiramento de nuvens vermelhas, José Arcanjo dos Santos abre seus braços no alto da pedra. Seu gesto-espantalho é girado num encantamento proseado em si mesmo. "Nazinha, meu querer, do meio de ti o azulão voei, e por tua boca morreu. Deixo faca, foice e fel, derramo os braço por nosso senhor qui dipressa vem cum força e fé o nosso rumo já é dado. Que de mim reste o pó das colheita e o milho seja bom. Fico aqui, leite e mel querer, sozinho me vou ao pai todo poderoso agora e sempre." Arvoado, José Arcanjo assopra o ar, buscando um assovio sagrado. O rosto cor de terra erodida retorce a boca em gestos ossados enquanto os galhos vermelhos untam seus olhos de sangue em fundo amarelo. "Ôoohhh", diz a voz-vento de José, um rever-verbo ecoado. A mão estendida recebe agora o primeiro pássaro, tomando-o em ninho. Ao alto a revoada se achega num periricar inaudito. Dois, três, quinze, mil pássaros azuis arrevoam o céu num aniz bailado. Coração em pulso largo, José cantoria com eles ainda estátua. "Quizera bom meu rumo certim, esperar te vou buscar meu nim", mais um verso na ajuntação. O volteio mais largo no rumo da pedra agora é uma cruz em dobra voada por ninho. Círculo de vida em pruma espera, o Arcanjo ergue seu vôo, enevoado por asas e Santos, sobrenome José, agora é uma mão sem pássaro, que da asa agarrada em mãos, deixou a vida roubada se ir. Desce da pedra cagada de penas, volta a Nazinha, seu bem-querer, espirrar rapé pros azulão voá!

domingo, junho 08, 2003

[Listening to: Queen & David Bowie - Under Pressure.mp3 - David Bowie & Queen - Grosse Pointe Blank (04:01)]

Insanity laughs under pressure we're cracking
Can't we give ourselves one more chance?
Why can't we give love that one more chance?
Why can't we give love give love give love?
Give love give love give love give love give love?
Cause love's such an old fashioned word
And love dares you to care
For people on the edge of the night
And love dares you to change our way
Of caring about ourselves
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves under pressure
Under pressure pressure


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