★ Flávio Souza Cruz ★

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sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Seio e o Paraíso

Interessante passagem da reportagem "Visões do Paraíso", publicado pela revista Terra 153 de janeiro de 2005:

"Nisso, porém, Colombo não estava sozinho: durante a Idade Média, todo cristão tinha a certeza de que o Jardim do Édem descrito na Bíblia era um pedaço de terra palpável. As cartas de navegação deste período o localizavam no extremo oriente. No mapa-mundi que Colombo seguia, a Terra tinha a forma arredonada de um seio, tendo o paraíso colocado como um mamilo em sua parte mais superior"

Aaahhh estes antigos sabiam das coisas!!!

Ps. Estou numa jornada pela internet em busca do tal mapa em formato de seio. Até o momento, encontrei este interessante site chamado Mappa Mundi. Nada de seios por lá, mas achei este aqui bonitão!

Ps2. Encontrei este aqui de Colombo que me parece estar com cara de ser. Continuando na busca, encontrei desta vez, o Rare Maps, um lugar onde são vendidos os originais destes mapas. Tem cada um com preços em milhares de dólares!

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Aos três meses só de idade
Em seu rosto resplandece
Luz de intensa claridade
Luz que ameiga e que enternece.

Toda a vez que alguém o fita,
Com ternura e cortesia,
Em retorno, nunca hesita
Em sorrir com simpatia.

Quer mostrar a todo mundo
A boquinha a sorrir...
Santo Deus! Como é fecundo
Seu jeitinho de sentir!

A Jesus agradecemos,
Ao findar de mais um dia,
Pelo filho que já temos
Neste lar - todo alegria!

Luiz da Silveira Reys (meu pai)


Poema escrito três meses após o meu nascimento. Encontrei-o hoje, na sua simplicidade e delicadeza, bem no meio de um velho livro de teoria literária, perdido no tempo, guardado pelos anos e anos, só por hora, agora, aqui, descoberto e lido. Sua benção, meu pai!

terça-feira, fevereiro 01, 2005

pq eis que teu preço é a música
'The marble image came alive,Began to moan and plead -She drank my burning kisses upWith ravenous thirst and greed.
She drank the breath from out my breast,She fed lust without pause;She pressed me tight, and tore and rentMy body with her claws
.'

Heinrich Heine's


Desde cedo, cada um de nós aprende que mentir é uma coisa feia. Eu não fugi ao caso. Não me lembro quem é que me disse isso pela primeira vez ou quantas me foram repetidas pela vida afora. Me lembro no entanto de um amigo meu lá quando tinha 8, 9 anos de idade que insistentemente vivia mentindo. Era muito estranho. Eu fazia coisas, contava casos verdadeiros mas nunca conseguia competir com os casos deste amigo. E eu sabia que ele estava mentindo. No entanto, achava tudo aquilo muito sem sentido e ficava me perguntando por que ele agia daquela forma. Num daqueles dias no qual ele torrou a paciência contando lá mais uma lorota, não suportei ¬ quebrei o sagrado e também menti - contei uma maior que a dele, tipo daquelas conversas fantásticas de pescador. O coitado, acostumado com as minhas tradicionais estórias verídicas não tão espetaculares, acabou ficando sem graça já que a minha mentira era "maior" do que a dele. Me lembro ter sentido uma coisa muito engraçada - ao mesmo tempo a constatação do poder que agora descobrira junto a um vazio enorme, dado que aquela estória era toda vazia e de fato não fazia parte da minha vivência concreta.

Os anos vão passando e dezenas, centenas e talvez milhares de pessoas vão também passando pela nossa vida. Dentre essa turma, uma boa dose de mentirosos e um bom punhado de compulsivos, parecidos com este meu amigo de infância. Eu, por mais que tenha aprendido com aquela lição, nunca lidei bem com o tal poder adquirido de mentir. Foi uma das etapas da minha vida na qual eu perdi uma certa ingenuidade do mundo. Mas de fato, isso não aconteceu com a mentira dita por mim mesmo. Foi na verdade quando descobri que o tal amigo mentia. Foi uma descoberta do mundo, a descoberta que nem todo mundo usa e partilha das mesmas regras ¬ das tais regras do jogo. E daí a famosa Lei do pobre Gerson de um levar vantagem sobre o outro. Me disseram depois que "quem mente não segue em frente" ou "mentira tem perna curta" ¬ tudo para retornar à velha máxima de que "o bem vence sempre o mal ao final".

Satanás, o acusador, curiosamente identificado com a serpente do Genesis, a qual era tão somente o animal mais astuto nos jardins do Éden foi chamado de pai da mentira, fruto já deste fatídico episódio que nos serve como maldição genética (cristianismo), notadamente a partir das cartas de Paulo. O mais gozado é que no incidente, por incrível que pareça, é a serpente de fato quem afirma a verdade e, pasmem, Iahweh quem mente. Quem quiser conferir, observe as palavras de Deus em Gen 2, 16, 17, confirmadas por Eva em Gen 3, 3. A morte do homem não se confirmou, a não ser em sentido metafórico como morte da pureza inicial. No entanto, o que serpente afirmou em Gen 3, 5 de fato aconteceu: após a mordida do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, homem e mulher passaram a ser versados no bem e no mal, da mesma forma como os deuses, fato que é inclusive confirmado pelo próprio Iahweh após ter amaldiçoado o homem, a mulher e a serpente em Gen 2, 22 quando este, de forma muito estranha, conversa no plural: "se o homem já é como um de nós..." Ou seja, a serpente na estória, mesmo tendo falado a verdade, pagou o pato tendo que a partir daquele momento começar a rastejar e a comer pó. E mais: ela que antes era apena um bicho, virou o próprio demo e o pai da mentira!!! Iahweh, o qual tinha contado uma inverdade [eufemismo bonito para mentira] para Adão acaba almaldiçoando e expulsando o povo do Éden. Por fim, querubins com espadas flamejantes são postos junto à árvore da vida, para que dela também não comessem seu fruto. (É!!! Existiam duas árvores especiais naquele quadrilátero!) Daí surge a ligação entre mentira e mal em nossa sociedade ocidental.

Mas seria este um fato antropológico? Aparentemente a mentira é encontrada em todas as sociedades e é de se assustar, motivo para manchete de jornal, encontrar alguém vivo que não tenha mentido na vida. Parodiando a própria passagem do evangelho, quem nunca mentiu que atire a primeira pedra! Certamente qualquer mentiroso sairia ileso de um apedrejamento destes. Mas continuando em nossa trilha, devemos nos lembrar também de outra pérola que sempre nos é dita: "há mentiras boas e mentiras más, há mentirinhas e mentironas!" Ora, a regra é uma só - desviarmos ou não da verdade e a verdade é a coerente ligação com os fatos. A verdade é prestação de contas com a sinceridade daquilo que é [pelo menos daquilo que é frente à imperfeição de nossos sentidos]. Em Efésios, 4, 25, o compromisso com a verdade funciona inclusive como o cimento básico da união primitiva da comunidade cristã: "Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros." Mas retomando a "trilha da mentira", poderíamos nos perguntar: Quem é o guardião da pureza daquilo que é ou não é uma mentira perigosa? Quem garante a ingenuidade de um dizer mentiroso? Obviamente todos nós procuramos calcular as consequências de nossas mentiras [tirando os compulsivos, óbvio]. Mas nunca teremos de fato certeza do mal que podemos ou não causar dizendo uma mentira. Mas daí, o mais interessante é postular que uma mentira pode ser boa, ou seja, que uma mentira pode salvar vidas, poupar transtornos, evitar mal-entendidos e, incrível, fazer o próprio bem.

E daí pulamos para o ponto final deste artigo que é a seguinte questão ¬ Pode uma mentira ser bonita? Certamente não falamos aqui da estética retórica ou da beleza argumentativa na construção de um enunciado falacioso. Queremos saber sobre a essência mesmo do enunciado - pode a mentira ser bela? Já sabemos, pois nos foi dito, que existem "mentiras" e "mentiras". E umas são mais cabeludas que as outras. Mas mentiras podem ser bonitas? Nos contaram também, como vimos no começo, que mentir é feio. Mentir pode ser bonito? Se acreditamos que uma mentira pode salvar uma vida ou fazer um bem, certamente há algo de belo nesse suposto poder da palavra distorcida. Mas o que nos fascina mesmo é a sedução que a mentira nos provoca. A língua dança em nossas bocas, coça nossos dedos ao escrever, quando somos seduzidos pela mentira. É uma troça, é um jogo, é uma brincadeira, é um fel a ser degustado na face de quem nos escuta e lê. A mentira dança, rebola, mostra a parte caída de seu decote, insinuando um doce canto de sereia a nos sibilar: "vem, me encosta na parede e abusa desse poder! Me faz sentir tua boca me dizer!" E é bela, altamente bela a mentira que nos diz: "vem que te quero!" Mas pode se dizer ela ao mesmo tempo bela e mentirosa? Mentirosa e bela ao mesmo tempo pode se dizer a mentira? Quem me garante?

Postado Originalmente por mim no antigo blog Hiperfocus em 10/11/2002.

sábado, janeiro 29, 2005

Existe uma razão em tudo. O poeta nega a razão e Deus reza por ele.




Existe uma reza para tudo. Deus nega a razão e o poeta...
O poeta reza por razões divinas.

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