Querido Flávio,
Que bom que te atrelas sempre a me cutucar. Como o sabes, em mim, a dor que precede a carta é sempre a dor que precede o parto. Por isso a evito, como que por diabos evitasse em tudo a missão que todos temos de parir e por vezes também partir. Tuas lembranças possuem o dom do engasgo vespertino a se tornar amargor no passar das horas. Mas eu sei que a tudo o que faz, há um quê de prosaico enlevo de me mostrar certas coisas. Não sei ao certo se te invejo afinal ou o odeio em doses recomendadas. Essa sua...arghh capacidade de a tudo esmaecer com o sol proverbial de palavras calculadas em esparramo me retira a paciência cultivada. E então, das lembranças cultivadas partes agora a um convite?! Te escrevo, pois, agora seco - Não o voo! E que fique bem claro - Christmas Island é tua vida, não minha. Aahh meu amigo, como te odiei por ires antes de mim e por este "antes" mudares meu mundo. Quebrei meus dedos, o confesso. A porta foi por demasiado batida contra eles que agora as tenho em medo.
Sabe, teus círculos me enojam, Flávio. Queria por tudo te sacrificar num destes. Não ando bem, há de me entender. Há de me entender, como malditamente sempre o faz tentar. E que te saibas um merda, por isso. Crescemos juntos num vasto quintal de cachorros e putas preenchidas. E boas frutas de se comer e respeitar, é verdade. Pois de nada disso me adiantou quando descobri que, em verdade, as prostituras eram das mais puras, cobrando apenas o devido tostão. E não me cite em reza alguma escritura palavra de conforto e consolo pois também você o sabe o quanto dói. E enfim, meu caro, aproveite nessas tuas andanças de caranguejo - Quando ao mar chegar, erga as mãos e solte um grande grito dizendo assim: Cccuuuu!!!, bem alto, por favor, em singela homenagem...
Teu fraterno amigo, respeitosamente,
Ernesto.