★ Flávio Souza Cruz ★

★ D R E A M S ★

★ M A G I C ★

★ F A N T A S Y ★

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Amanda Carla de Souza é leitora de borras. Suas mãos, o instrumento de tocar o mundo. Seus olhos, miragem borrada. Seu mundo, quatro quadras que retornam em voltas a sua una janela. Aos quinze, Amanda, do cigarro o prazer lhe deram. Dos vários descobertos, na brincadeira dos dias, sentia ela, luz e calor, torpor e tesão, da brasa e flâmula etérea a bailar quando a noite chegava. Sentada, a janela aberta, pombas voando e os sons do prédio. Lá embaixo, a mulher do trezentos e sete canta. Gritos, gemidos, crianças brincando. Toca Amanda o rádio, suas mãos escorregam pela cadeira. Lembra-se do Márcio, amigo fraterno, agora cansado. Pensa nas frutas, pensa na mãe.

As pernas abertas, os cílios em cópula. Seus lábios se tocam e a língua os molha. Pensa no Márcio, amigo, fraterno, pensa na vida e a cama por fazer. Lá embaixo, a música tocando. Palavras em inglês rodopiam na mente. Aperta as mãos, espreme os olhos. Revira-se, revolta-se, sente agora o dia sair num recuperar de lágrimas. E de tudo, cínica toca, enlamecendo o vidro com as lágrimas de ontem. Cinco minutos lhe bastam. Agora sorri, olhos mansos, cigarro acabado. Lá embaixo, as meninas continuam. E a música também. Trezentos e sete cantos, Amanda os sabe de cor. Sua língua era contar, dos dias passar.

[Ouvindo: Satellite of Love - MDH Band - The Million Dollar Hotel (4:12)]

sábado, fevereiro 12, 2005

Meu aniversário passou...foi dia 29 último. Mas é hoje que vou comemorar. Sendo assim, meu amigo leitor e amiga leitora, sintam-se convidados para a minha festa. Vou tomar uma boa cervejinha e celebrar! Salut!

sexta-feira, fevereiro 11, 2005







Querido Flávio,

Que bom que te atrelas sempre a me cutucar. Como o sabes, em mim, a dor que precede a carta é sempre a dor que precede o parto. Por isso a evito, como que por diabos evitasse em tudo a missão que todos temos de parir e por vezes também partir. Tuas lembranças possuem o dom do engasgo vespertino a se tornar amargor no passar das horas. Mas eu sei que a tudo o que faz, há um quê de prosaico enlevo de me mostrar certas coisas. Não sei ao certo se te invejo afinal ou o odeio em doses recomendadas. Essa sua...arghh capacidade de a tudo esmaecer com o sol proverbial de palavras calculadas em esparramo me retira a paciência cultivada. E então, das lembranças cultivadas partes agora a um convite?! Te escrevo, pois, agora seco - Não o voo! E que fique bem claro - Christmas Island é tua vida, não minha. Aahh meu amigo, como te odiei por ires antes de mim e por este "antes" mudares meu mundo. Quebrei meus dedos, o confesso. A porta foi por demasiado batida contra eles que agora as tenho em medo.

Sabe, teus círculos me enojam, Flávio. Queria por tudo te sacrificar num destes. Não ando bem, há de me entender. Há de me entender, como malditamente sempre o faz tentar. E que te saibas um merda, por isso. Crescemos juntos num vasto quintal de cachorros e putas preenchidas. E boas frutas de se comer e respeitar, é verdade. Pois de nada disso me adiantou quando descobri que, em verdade, as prostituras eram das mais puras, cobrando apenas o devido tostão. E não me cite em reza alguma escritura palavra de conforto e consolo pois também você o sabe o quanto dói. E enfim, meu caro, aproveite nessas tuas andanças de caranguejo - Quando ao mar chegar, erga as mãos e solte um grande grito dizendo assim: Cccuuuu!!!, bem alto, por favor, em singela homenagem...

Teu fraterno amigo, respeitosamente,

Ernesto.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Recebi algumas boas indicações de Blogs. São eles: Paramar, escrito pelo Orlando; Hotel Hell, por Joca Terron; e a Inveja de Gato, por Antônia Pellegrino. Gostei especialmente do primeiro blog sendo uma pena o fato do autor tão pouco escrever. Take a look!



Saudoso Ernesto,

Me contaram que andas calado, envergado pelo tempo, como se os anos o fizessem orar. E seria talvez bom nos questionar se não seria essa a posição o fechamento do círculo que da mãe vai ao pai. De certo, reflito, uns se desorientam mais pelas etapas da curva sempre curva, procurando obstinados por um retorno antes da ponta, sem a saber inexistente. Reabro meus olhos a cada passagem do vento na praia e a cada vento, me sinto ainda vivo. Porém, me contaram, que ousaras pular fora do traçado de teus pés. E foi assim que pensei, ser o salto uma espécie de mágica e cassino, destas jogadas nas mãos de um equilibrista bêbado. E relembro um velho chinês, que mesmo no torpor e com apenas um braço, pois que no outro ainda ardia uma garrafa, vencera trinta incautos em praça pública. E isso me dizia que até a embriaguez pode cheirar a perfeição. Mas enfim, me vejo agora a pensar se a ti seria melhor a curva do corpo ou o espasmo da alma. E de fato, é apenas uma questão de grau e do mirar na pulsação de nossos pés. Podemos marchar e como impávido olhante encarar, matar e por tudo passar. Nos esquecer do ângulo horizontal e nos fazer em trinta, orgulhosos pela batalha. Mas também e, no entanto, nos revirar como máquina de mãos, repuxando os baús do passado. Um andar, cairá de costas, quando o círculo se fechar. O outro, se encolherá em círculo menor.

Não sei mais se tu lembras daquela fazenda onde aleijamos o pássaro. Como loucos corremos pela mata, vendo o sangue traçar rastros nas folhas, soluçado por gritos que não mais se ouviriam no céu. Da arma apontada e do tiro perdido, da nua e crua desilusão de a todos não retirar da agonia. E desde então, tu vestistes as roupas daquele voar, que por sempre te ancorou triste, afora liberto. A Deus empenhaste a tua sôfrega mão num pedido de não mais fazer, de não mais querer e de sempre a tudo evitar. E como sina já escrita, tentar em vão sempre os pés em chãos por alma alguma pisados. Há algo sempre de doce que ao amargo foge no sangue que bebemos em cada sulco na linha sinuosa que trilhamos. O pássaro interrompido foi o nosso sangue que se fez meio ânsia. Devia porque devia ter te avisado, mas embarcara em nossos crimes que já não mais doiam. Retirávamos o peixe da vida porque o retirar era apenas o feito das aulas da semana santa. Foi então que te fechaste em febre e teu corpo transformado em largas manchas vermelhas era um arquear de dor. Orei por ti a cada minuto e a cada copo d'água que me pedias, era ver a lágrima da impotência te lancinar. Bendito aprendizado da terra foi este o tempo.

Eu aprendi com o pássaro que que a vida é menos do que fazer; já a ti sempre o vi com a querência pelo impossível reencontro. Aqui em Christmas Island tenho consertado as tábuas de minha casa, meu amigo. Pintei os poemas em toda a sala de estar, deixando branca a rosa dos ventos sul, leste e oeste. Espero agora por ti, Ernesto - a pintura do lado norte. Ele aqui, na ilha onde estou, é o que aponta para a praia. Um envelope chegará em breve com tua passagem. Te aguardo agora em círculo sentado, Ernesto. A ilha te espera.

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