★ Flávio Souza Cruz ★

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★ F A N T A S Y ★

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Hoje é um dia feliz! O primeiro dia de um ano bom, o qual espero poder terminar com chave de ouro. Por diversas razões, estive fora daqui e muito pouco postei. Espero poder mudar isso. Neste sentido, pretendo mudar a linha editorial do Epifania. Ao invés de só postar literatura ou coisas correlatas, pretendo postar por aqui, a partir de hoje, tudo o que me der na cabeça. O Hiperfocus está paralisado há séculos e eu não tenho mais graça em postar por lá. Sendo assim, o espaço será este mesmo. Hoje descobri um novo brinquedinho - o Snap. Trata-se de um script que faz com que vejamos um preview dos links que postamos. Creio que o Epifania ficou mais "bonitim" com ele.

Enfim, tenho certeza que serei bem mais fiel aos meus minguados, porém heróicos, leitores do Epifania. Para começar, vou deixar aqui um video que gosto muito - Santa Maria de Buenos Aires do grupo de neotango Gotan Project.



Se você gostou deste video e quer tê-lo no seu hard drive, a dica é o programa vdownloader. Ele baixa os videos do YouTube e os converte para formatos .avi e mpg. Pequeno, fácil e poderoso.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Obrigado meu Deus. Obrigado meu pai. Obrigado.

quarta-feira, novembro 08, 2006

"Na lúgrube cela empoirada dos meus cuidados, há um quê de folhas verdes que teimam em se erguer. Os galhos do sustento são como linhas de cobre entrelaçadas. Perfuram o céu, perfuram a terra, perfuram a mim. E da transfusão colhida, me dou ao prazer do encharco. Três linhas a menos e nada a dizer. O texto se come às avessas. Aperto a esponja que sou à espera da fuga dos insetos. Uns sempre ficam, maledicentes. E assim vou, caminhando com as folhas de esperança, o remoer dos galhos e o aspergir dos insetos. O passo é vagoroso, o mundo é grande, mas eu o mastigo."

Zidur parou à porta do amigo. Bateu três vezes - o aviso combinado. Um sorriso acolhedor aparece. Entram. A poltrona serve agora como o espaço da lonjura próxima. Zidur fala então das últimas músicas que ouvira, conta sobre a vontade de ir ao jogo no domingo e aguarda ansioso pelo cafezinho servido. Ele repara a atriz gostosa na TV, elogia em eufemismo. Sorri. Um inseto abre as asas lá por dentro. Coloca uma perna sobre a outra, o tempo passa. Jogam cartas, buraco, quem sabe. Gritam, bebem cerveja. A patroa do amigo traz uma porção de pastelzinhos portugueses. Comeram, gritaram, riram e beberam mais. A porta se abre, entra o Cláudio, outro amigo. Fecha-se uma roda. A noite prossegue, o papo é bom. O amigo mostra as novas músicas e agora temos um misto de debate a apreciação. Um pouco mais quieto, Zidur sente o som de Ute Lemper e relembra algo não vivido. Duas, três horas da manhã, hora de ir. Despedem-se.

E tudo fizeram sem se ver. E tudo fizeram como que em um breve tocar de galhos. Na hora do café, uma folha do amigo caiu. Olharam-na, mas ninguém a pegou. No prosaico encontro, era melhor o pastelzinho a comer a vida. Zidur, discreto, fechou os olhos e sentiu o percevejo lhe correr nas costas.

sábado, julho 08, 2006

"Nenhum dia sem uma página"

Johann Wolfgang von Goethe.

Quisera eu ter essa persistência. Mas vou deixar aqui essa frase com poderes curativos para sempre me lembrar de escrever uma página por dia. Talvez tatuar isso na mão e olhar todo santo dia. Acho que ia ajudar muito.

sábado, junho 03, 2006

O tecido de carvalho da mesa recoberto por uma poça e a visão do paraíso. Eleudina abre os olhos. A íris em flor, formada em tons de centeio e milho. A pupila negra arrematando a íris, o globo ocular recortado por línhas esquizóides de sangue. A cara alegre, os olhos abertos, o olhar daqueles que sabem. Abre o piano, a mão lânguida escorrega, toca - duas teclas, o pedal. E de súbito uma fraqueza lhe vem como que a tontear pela sala. Sons de cordas, arpejos, toques longíncuos dos anjos. A cabeça rodopia, a tonteira lhe derruba junto ao órgão. Segura-se, respira. Olha para as gotas e a poça e a mão. Eleudina inspira. O peito esguio de tez moura entreaberto em farto decote é inflado num solfejo. Os lábios se fecham como uma boca de desdém. Olha para o teto, a luz amarela, relembra a poça. Tateia de novo o carvalho, sente o caldo grosso.

Quando pequena, haviam lhe dito para não brincar com as facas da cozinha. Mas desde então, como receituário indicado, sempre roubava uma delas. A "Amélia" era sua preferida. O cabo quebrado lhe fizera trançar cem cordas em volta. Mas o corte era bom. Boa de segurar, boa de cortar. Mas acima de tudo lhe divertia enfiar a amélia nas sacas de feijão que a tia comprava a cada semana. Seus olhos orbitados contemplavam o brilho, a língua lambia o corte da lâmina. A faca entrava, saía, mergulhava. Era uma repetição fálica, quase-sabia. Vários tapas por isso recebera. Tapas no ouvido de perder o rumo. Chorava, corria, mas a faca ninguém pegava. Era dela, só dela. Amélia dormia em sono de vigília, um olho meio aberto, sempre. Amélia ao lado, à esquerda.

Por vez surgia-lhe o espantamento. Um quê de não saber o propósito das coisas. E já não sabia por onde e nem quando viera a paixão por Amélia. E já não mais... no esquecimento também queria-lhe ao lado. Sua filha lhe gritava: "Mããe! ôh minha mãe, larga isso, larga dela". Mas corria. Eleudina abria os olhos, sorriso daqueles que sabem, voltava ao quarto. Ajoelhava-se, orava, sentia os ossos cutucarem a pele no ombro. "Aaaahh maldita, pensava! Éh! É ela o diabo! Tá me querendo! Tá te querendo!" E então abraçava Amélia junto ao peito e dançava. Aaaahhh como Eleudina dançava. Os tacos carcomidos dos vários rodopios como testemunhas eternas da insava vontade. Mas... "sshhh ninguém pode saber! Vocês! Fiquem quietos"... O dedo bravo apontava para o chão.

O marido a deixara há quatro anos. Não ligara. Acordava sempre com o travesseiro ensopado, mas nunca deu a isso um porquê. "Vou cozinhar, éh!" Mas de novo, como uma dor agora doce, a língua molhada engasga, a pele fria. Cai.

E de súbito a luz da porta aberta, Amélia, a filha com ela junto ao peito. A luz e um corpo. Nada mais.

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