★ Flávio Souza Cruz ★

★ D R E A M S ★

★ M A G I C ★

★ F A N T A S Y ★

segunda-feira, abril 21, 2003

Formando um quadrado, quatro banheiros de laje antiga branca, portas de madeira dessas que não chegam até o chão e uma descarga para ser puxada. E quando a usávamos, algo bem diferente acontecia pois de banheiro aquele quadro não tinha nada e era de fato um elevador. Subíamos uns 8 andares naquele prédio dos anos 40. Ao chegar, logo uma cortina de veludo azul nos recepcionava. Dava para escutar a música transpassando o pano de cortina e logo já se viam as pessoas junto à entrada. Era uma mistura de bordel com clube de dança. "Olá Flávio, entra, entra, pega uma cadeira...", uma mulher me recepcionava. E ficava ali a ver as coisas acontecerem. Poucos dançavam, mas havia muita conversa - intrigas, futricas, jogos de corpo e imagem pelo salão. Ao fundo, havia sim dessa vez um banheiro de verdade onde as tais intrigas e negociações continuavam seu ritmo. Me lembro de ser um frequentador semanal deste lugar, me lembro de ser conhecido por uma boa parte das pessoas mas me lembro também de ter sempre a sensação que eu era um estranho e que precisava ainda me apresentar a quem ali estava. Gente do colégio, do grupo de jovens, dos amigos das noitadas e gente nova que conhecia os meus amigos e não a mim...ah havia os meus primos também. Em meio a isso tudo uma doença começa a tomar meu corpo. Vou ficando cada vez mais fraco entre idas ao médico, retorno ao clube e visitas ao hospital. Eu não sei do que se trata, mas sinto que é algo que me enfraquece pelas entranhas. Vejo os olhos de tristeza e de esperança das pessoas, olhos dos que sabem o olhos de interesse daqueles que não sabem.

Num determinado dia, em visita ao médico, vi um auxiliar dele entrar com um aparelho estranho parecendo uma régua com uma curvatura abaixo. Me abrem a boca com o tal aparelho e observam lá dentro. Sou levado ao hospital, que era logo ao lado. Lembro que isso era já previsto - a tristeza das pessoas no clube, cada uma no seu canto e jeito, me dizendo palavras e me oferecendo o ombro numa mistura de carinho e espantamento. Lembro-me da palavra "novocaína" e um sujeito que reagia a ela, ficando "doido" querendo pular do caminhão onde imaginava estar. A sensação de ser cortado e de me ver marcado ao longo de possíveis outras cirurgias pela vida e de sempre querer voltar para casa há poucos quarteirões e sempre me ver impedido. Eu senti tudo acontecer apesar de não ver. Ainda enfaixado, de terno marrom e chapéu na cabeça vou me aprontando como um velho aposentado. A dor é daquelas que na verdade são de um "não se encaixar" no corpo. Me apronto todo e agora estou lá novamente abrindo a portinha do banheiro de baixo. Subo, abro a cortina, entro no salão. Poucos me reconhecem, me vêem como um velho ao longe. Me lembro de três mulheres num grupo afirmarem - "mas... mas parece um velho!" e consternadas abaixarem a cabeça. Me encho de raiva e mesmo sentindo as faixas apertarem a região da cirurgia, corro e deslizo pelo salão. Levanto o chapéu e como se uma nuvem sumisse da visão das pessoas, retomo minha imagem original jovem e cheia de vida. A alegria retoma. Nos braços, tomo uma daquelas três mulheres para dançar o bolero da vez... e escuto ao fundo, no banheiro de cima, a velha quermece das intrigas de sempre... mas vá lá... acordei... este foi o meu sonho da madrugada.

sábado, abril 19, 2003



Isso aqui é literal e visceralmente uma Epifania emanada por Deus, captada pela fotógrafa Diana Blok. Hoje eu tinha planos de escrever algo por aqui, mas acabei me maravilhando com as coleções dos fotógrafos do site Zone Zero - Fascinante!

Vamos escrevendo para dentro da cabeça os momentos ditados pela vontade de não-dizer e somente guardar. E as linhas vão ganhando ares de papel rasgado embrulhado no nosso querer. Corre nas lembranças um ar desolado a procura das palavras não queimadas pela língua. Mais um tempo e serão quimera e pó.

Fiquei encantado com as coisas que vi numa reportagem sobre este lugar que ainda não existe virtualmente - Instituto Ricardo Brennand. Quando eu voltar a Recife, sem a menor dúvida irei lá visitar as coleções históricas e artísticas deste lugar. Para quem quiser ter uma idéia do que se trata, pode dar uma conferida nas fotos dessa menina aqui.

sexta-feira, abril 18, 2003

Achar a letra é muito fácil, basta procurar no google. No entanto, me deu vontade de postar a música "Velha Infância" do cd dos Tribalistas. Certamente eles acertaram em tudo - a música é deliciosa de escutar, a letra simples muito bem interpretada pela Marisa e o Antunes formando um quê real de um tempo perdido e gostoso que não está nem no passado e nem no futuro, mas que habita um acalanto gostoso de sonho. Simples com toque de genialidade - é assim que as coisas boas realmente são. Pois que seja - simples e belo!




Velha Infância
Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Carlinhos Brown, Pedro Baby E Davi Moraes

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo

Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito

Eu gosto de você
Eu gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor

Da gente cantar
Da gente dançar
E a gente não se cansa

De ser criança
Da gente brincar
Da nossa velha infância

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos

Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor

E a gente cantar
E a gente dançar
E a gente não se cansa

De ser criança
Da gente brincar
Da nossa velha infância.

quinta-feira, abril 17, 2003

Resolvi dar uma melhorada nas coisas por aqui no Epifania. Como boa formiguinha, vamos aos poucos montando o formigueiro. Eu tenho a sensação que aqui é ainda um blog em gestação, em processo de se tornar alguma coisa. Comecei hoje mudando o banner pois o antigo estava me irritando. No mais, quero citar o blog Epifanias [este no plural] elaborado pela Anah Sampaio aqui de Belo Horizonte. Um outro blog muito bom elaborado pela Anah é o Imageria. Façam uma visita a ela! ;-)

Sobre livros - no Hiperfocus, nunca cheguei a mencionar direito as coisas que estava lendo. Aliás, além de falar muito pouco sobre estes detalhes, cheguei à conclusão que falei muito pouco sobre mim no geral, de tal forma que eu sinceramente não faço idéia do que as pessoas que me leem pensam sobre o que eu faço na vida real. Professor de economia combina com blogs? Pois bem - é isso o que faço no mundo das realidades, concreticidades e etc e tal. Mas ainda pretendo falar mais sobre essas coisas pela frente. Quanto aos livros, estes são os dois que comprei nessa semana: "Entre o Passado e o Futuro" da Hannah Arendt e "As Encruzilhadas do Labirinto 4" do Cornelius Castoriadis, o qual tem um subtítulo bem interessante para exemplificar os tempos atuais de guerra que é - a ascensão da insignificância.

terça-feira, abril 15, 2003

Acabei de ver este video do MOBY na MTV - ele é muito bom - melancólico - bonito - melancólico - mas bonito. Não vou muito falar sobre a estória do video, pois espero que vocês acabem vendo (os que ainda não viram). A imagem abaixo reproduz um pouco da idéia. É como se fosse esse bichinho frágil e bem intencionado (que cada um tem dentro de si neste universo de tantos bichos estranhos que cultivamos) com cartazes, olhos esperançosos em busca de... algo mais que reticências, num mundo renitente em nos ver e sentir.



Moby - In This World

Lordy don't leave me / All by myself // Good time's the devil / I'm a force of heaven // Lordy don't leave me /All by myself // So many time's I'm down / Down down // With the ground // Lordy don't leave me / All by myself // Whoa, in this world // Lordy don't leave me All by myself

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