Foto roubada do Le Divan Fumoir Bohémien. Aparentemente ela foi tirada do livro Des bibliothèques pleines de fantômes de Jacques Bonnet. E antes que me perguntem se são os livros o meu sonho de consumo, eu já respondo - "Nãããooo! É este conjunto inusitado e maravilhoso da obra plena e completa de se colocar uma bela e voluptuosa mulher junto à profusão de livros desta velha estante!" - Isso merece um voluptuoso texto!
A Mão e a Palavra
A palavra percorre o lábio a se morder. A palavra mordida baila, circula, circunda e escorre. Desce pelo corpo, serpenteia. A palavra esquenta, humidece, baila. A palavra percorre o ombro, serpenteando pelo ante-braço. Desce, escorre, molha a pele de suor. A palavra percorre a palma até os dedos, circunda, preenche. A mão agora é o verbo, permeia o espaço, procura a curva. O cheiro é ocre, perfumado. O desenho percorre a vulva. Deleite ao toque, um círculo e outro mais. Um apertar de nuvens vermelhas eriçadas em tez. A palavra suspira, geme, se enche ao toque. Pronuncia o sagrado rasgado em nudez. A palavra toca, o sangue faz voltas. A pele rosácea em espasmo enrubece. A mão e o toque. A pele no corpo. O corpo e a chama. A alma reverbera. A mão toca o lábio. E o o lábio agora é o seio. A palavra inaudita respirando aos passos de um suspiro a gemer. Os dois e agora um. Os livros e agora ela. A mão e a palavra. Agora um, teu seio, rubor, meu livro, a mão e minha lavra.