★ Flávio Souza Cruz ★

sexta-feira, março 11, 2005

O vazio é sempre um querer. Ele pulsa como almofada a se contrair. Revolve o estômago, aperta o átrio. Sobe visceral, remexendo a fronte em ânsia. Melancolia nos olhos, ânsia de palavras. Maria do Rosário cansou-se dos vazios. No movimento dos anos, em arrebitar de querência, Maria se enfiava de paixão. De paixão se enfiava pra num rasgar lhe tirarem. De fé se enfiava pra num roubar lhe tirarem. Batia o pé, teimava. De trabalho se enfiava pra num chutar lhe tirarem. Maria sentia o time, outra e paixão. Mas este, quando muito, era uma rapidinha no poste. Maquiava-se, vestia-se, metia-se. Seu rosto quase belo, coisa de atriz aos 50. Um olhar noturno, uma pálpebra fechada. Duas.

A porta se abre erguendo a pupila. O estômago a envolve, vazio. Tempo da conta do rosário. Hora de enfiar mais um dia.

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