★ Flávio Souza Cruz ★

terça-feira, março 15, 2005

Quem pudera trazer do tremular do parado ar o escaldar da movediça curva em calor. A mão espalmada tocando o pescoço melada em suor. O dorso esguelando e contorcendo o tempo, efeito vago. A pele arde, queima e morre em gotículas. O olhar bem aberto vendo o tempo e aquilo, aquilo era tão... tão doce... os olhos do menino, na beira da estrada. O olhar, sorrindo, voltado pra terra, para as mãos em terra. Os carros passam, desenhando espectros no calor. O suor pregando a roupa e o calção pregando o corpo. O dobrar das mãos arrastado no minuto a rodopiar o graveto. O dobrar do graveto rodopiando o mundo e tudo, bem tudo, bem lento, bem santo e lento. A criança era eu e o tempo era Deus. O buraco desenhado, o graveto, a torre de lama seca, a formiga. Quem pudera me trazer de novo no tremular do parado tempo. E a movediça curva do amor, me resgatar dos prazeres de mim mesmo. Quem me dera resgatar o graveto, a torre e as formigas e me perdoar pelos dias enfurnados em buraco. Eu seria um menino numa tarde sábado, uma criança num dia de sol, tão somente um menino tremulando ao som do calor.

E tudo, tudo pulsava tão forte... E dizia o menino a mim mesmo "eu vou morrer assim... em partos sucessivos"

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